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domingo, 13 de setembro de 2009

TERCEIRIZAÇÃO ATÉ ONDE?

Não faz tanto tempo assim, as empresas costumavam verticalizar todo o seu processo de fabricação e montagem em suas instalações. Sendo assim, uma empresa que tinha, por exemplo, fogões como produto final, esta costumava possuir além do seu setor de montagem, setores responsáveis por estampagem de chapas de aço para as partes metálicas do produto, tratamento superficial, injeção de zamak ou plástico, etc... Enfim, tudo o que fazia parte do produto era produzido por ela própria, desde o projeto do produto até a confecção de parafusos. Esse exemplo pode até parecer absurdo nos dias de hoje, mas com exceção da matéria-prima (e ainda assim existiam exceções), praticamente todo o restante era fabricado dentro da própria empresa.
Com o passar dos anos, esse processo se mostrou ineficiente, pois o desperdício, os atrasos de produção e entrega devido às quebras de qualidade internas, a burocracia interna, o acúmulo de estoques de produtos semi-acabados desperdiçando o espaço físico, os clientes cada vez mais exigentes, o mercado cada vez mais competitivo, entre inúmeros outros fatores serviram para alavancar o processo de terceirização nas empresas. Com isso as empresas ganharam agilidade, pois apenas deveriam se concentrar no seu processo principal, enquanto que os demais processos secundários seriam realizados por empresas especializadas em seus ramos de atuação (- Vamos deixar a fabricação de perfis de borracha para quem entende de borracha!!!).
Porém o fator principal foi o custo e dentro deste fator estão os encargos e gastos com a mão-de-obra. As empresas terceirizadas ofereciam um custo de produção menor, o que fez uma grande diferença num mercado cada vez mais competitivo.
Contudo esse processo de terceirização também provocou alguns agravantes:
1) Se antes as empresas tinham como saber se era vantajoso ou não terceirizar a sua produção, através de uma rápida comparação entre os custos do processo realizado dentro dela mesma e os custos oferecidos pelos terceiros. Hoje isso já não é uma tarefa tão simples, pois os setores que foram terceirizados acabaram sendo dizimados dentro das empresas, sendo assim não há como se obter uma referência interna em relação aos custos.
2) Muitas empresas terceirizadas, também acabaram por terceirizar alguns de seus processos ocasionando uma quarteirização do processo original, e assim por diante...gerando uma reação em cadeia. Desta forma, se levarmos em consideração que o objetivo de toda empresa é o lucro, e que cada empresa participante dessa cadeia produtiva irá produzir um produto com um valor onde está adicionado o seu lucro (além dos custos de fabricação), qual será o real valor desse produto ou componente? Será que realmente estamos ganhando ou perdendo dinheiro terceirizando a produção deste item? Quantos itens mais estão nessa mesma situação? Talvez não seria mais vantajoso voltarmos a fabricar esse produto nós mesmos? São perguntas como estas que levam muitas vezes algumas empresas a voltar a produzir determinados itens, mas aí esbarram em outros problemas.
3) Com a terceirização do processo as empresas estão suscetíveis à perda de know-how sobre o processo e/ou produto/serviço, pois a partir do momento que este passa a ser realizado por uma terceira a contratante acaba não acompanhando as inovações potenciais que poderiam ser aplicadas ao projeto original. Não é raro o terceiro tornar-se um especialista no produto que originalmente pertencia à contratante a ponto de, em alguns casos, passarem a competir com ela no mercado como um novo entrante.
4) Por outro lado, qualquer inovação sugerida pelo terceiro sobre o produto/processo adquirido pela contratante passa por um processo de aprovação burocrático e lento. Burocrático porque toda alteração deve ser comunicada e submetida para aprovação de todos os clientes dentro da cadeia de fornecimento e lenta porque estas aprovações geralmente recebem um baixo nível de prioridade pelo cliente. A união de todos estes aspectos pode contribuir para uma redução significativa do ciclo de vida do produto/serviço, visto que este pode tornar-se obsoleto por não acompanhar as novas tendências tecnológicas do mercado na velocidade imposta por ele, ou porque iniciativas que poderiam contribuir para a redução dos custos de fabricação deixam de ser observadas e/ou implementadas, tornando o produto/serviço menos atraente para o cliente.
5) Outro problema é a perda de mão-de-obra, pois durante a terceirização a empresa contratante desfaz-se de sua mão-de-obra responsável pelo processo. Deste modo, há uma quebra dos métodos de trabalho atuais e adoção de novos. Em muitos casos a empresa contratante passa a ter que conviver com problemas anteriormente extintos pelo processo interno, mas que retornam com a terceirização, principalmente devido a esta quebra da metodologia de trabalho e ausência de know-how da nova mão-de-obra com o novo produto/serviço. Outro ponto importante é que, por diversas vezes, há um desnível de treinamento da mão-de-obra terceirizada em comparação à contratante. Quando o fator decisivo para adoção da terceirização é a redução de custos devido aos encargos salariais esse desnível passa a ser ainda mais significativo e, porque não dizer, perigoso, visto que para oferecer custos atraentes o terceiro pode vir a utilizar pessoal com baixa ou nenhuma qualificação para execução das atividades contratadas. Contudo, mesmo esses problemas não impedem que as empresas voltem a reassumir o processo em questão, contratando e/ou treinando a mão-de-obra.

O ideal é que a empresa não se envergonhe de reconhecer quando errou ao optar por terceirizar determinado processo ou produto/serviço, pois para muitas destas empresas os fatores que as levaram a tomar esta decisão não oferecem mais as mesmas vantagens encontradas anteriormente, por diversos motivos, tais como: baixa flexibilidade de produção, riscos logísticos, problemas de qualidade, etc...
São fatores como estes que fazem com que a empresa necessite, sempre que oportuno, rever o seu processo de terceirização.

Contudo a terceirização, quando realizada de forma planejada, sem dúvida pode ser encarada com uma ferramenta para tornar a empresa muito mais competitiva. O importante é ter-se sempre um planejamento adequado e uma análise profunda das vantagens e desvantagens deste processo muito utilizado atualmente.

Por Rogério Câmara
Coordenador da Engenharia da Qualidade e Desenvolvimento de Produto
Professor de Graduação em Gestão da Qualidade e Administração da Produção
Consultor em Técnicas de Engenharia, Qualidade, Marketing e Meio Ambiente

Rogerio Camara Pereira | Contato

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